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CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO Eu sou um homem fechado.O mundo me tornou egoísta e mau.E a minha poesia é um vício triste,Desesperado e solitárioQue eu faço tudo por abafar. Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,Com o teu passo leve,Com esses teus cabelos...E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreendernada, numa alegria atônita...A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútilAonde viessem pousar os passarinhos.

Essa lembrança que nos vem às vezes...folha súbitaque tombaabrindo na memória a flor silenciosade mil e uma pétalas concêntricas...Essa lembrança... mas de onde? de quem?Essa lembrança talvez nem seja nossa,mas de alguém que, pensando em nós, só possamandar um eco do seu pensamentonessa mensagem pelos céus perdida...Ai! Tão perdidaque nem se possa saber mais de quem!

Quem disse que eu me mudei?Não importa que a tenham demolido:A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: "nunca" e "sempre".

Amar, nunca me coubeMas sempre transbordouO rio de lembrançasQue um dia me afogouE nesta correntezaFiquei a navegarEmbora, com certeza,Não possa me salvarAmar nunca me trouxeCompleto esquecimentoMas antes me somouAo antigo tormentoE assim, cada vez mais,Me prendo neste nóE cada grito meuParece ser maior

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Esta vida é uma estranha hospedaria,De onde se parte quase sempre às tontas,Pois nunca as nossas malas estão prontas,E a nossa conta nunca está em dia.

EsperançaLá bem no alto do décimo segundo andar do AnoVive uma louca chamada EsperançaE ela pensa que quando todas as sirenasTodas as buzinasTodos os reco-recos tocaremAtira-seE— ó delicioso voo!Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,Outra vez criança...E em torno dela indagará o povo:— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...Eu tenho um medoHorrívelA essas marés montantes do passado,Com suas quilhas afundadas, comMeus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...Ai de mim,Ai de ti, ó velho mar profundo,Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

Pior, mas muito pior mesmodo que as lágrimas de crocodilo,são os sorrisos de crocodilo...

Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...

Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.

Linha Reta Linha sem imaginação.

Fere de leve a frase... E esquece... NadaConvém que se repita...Só em linguagem amorosa agradaA mesma coisa cem mil vezes dita.

DOS NOSSOS MALES A nós bastem nossos próprios ais,Que a ninguém sua cruz é pequenina.Por pior que seja a situação da China,Os nossos calos doem muito mais...